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Análise Emergética

Análise Emergética

ANÁLISE EMERGÉTICA

UM MÉTODO DE QUANTIFICAÇÃO DOS IMPACTOS AMBIENTAIS DE UM EMPREENDIMENTO QUE GANHA FORÇA E TEM MUITAS VANTAGENS

 

Desde que o homem passou a entender as conseqüências dos impactos causados ao meio ambiente decorrentes de suas atividades ele vem tentando criar métodos que permitam medir em que extensão a sua existência influencia os ecossistemas à sua volta. Indicadores de sustentabilidade foram criados, medidas do “tamanho da pegada” deixada por nós no planeta (a “pegada ecológica”, termo criado por E. E. Rees em 1992), indicadores de consumo, redução da disponibilidade de recursos baseada nas atividades de organismos que compõem um determinado bioma, balanços energéticos, entre outros, passaram a ser um tema comum aos Sistemas de Gestão das empresas ambientalmente responsáveis. Apesar de todo esse esforço, é necessário lembrarmos que uma avaliação ambiental consistente deve, obrigatoriamente, carregar consigo a necessidade de compreensão de todos os seus significados, aliado a uma medição objetiva e prática do objeto de estudo em seus aspectos físicos, biológicos, econômicos e antrópicos (sociais e culturais). Portanto, um conjunto de indicadores friamente elaborados não é suficiente para elucidar essa trama complexa, repleta de variáveis que, isoladas podem atender às expectativas, mas que em conjunto podem projetar um panorama de convivência com o meio ambiente inadequado.

Todas as ferramentas utilizadas têm suas vantagens, normalmente associadas à especificidade com que são aplicadas: são viáveis em um ou outro setor da economia, avaliam o aspecto financeiro, identificam a possibilidade de impacto causado pela interação das organizações com o meio ambiente – e, conseqüentemente, da probabilidade de incidência de multas e autos de infração. No entanto, nenhuma delas é capaz de fornecer com clareza e objetividade dados que permitam a comparação entre as diversas disciplinas nas quais medimos os aspectos ambientais: água, ar, solo, biodiversidade, impacto visual, consumo de energia renovável e não-renovável etc. A análise emergética é um esforço nesse sentido.

Além do aspecto prevencionista associado a essa prática, uma segunda questão, mais relacionada à conformidade ambiental de uma organização, nos impele em direção à avaliação emergética. Alguns organismos de fiscalização governamental (IBAMA, FEAM, FATMA e CETESB, por exemplo), já estão exigindo a análise emergética como parte dos Estudos de Impacto Ambiental (EIA) para a concessão de licenças e autorizações a novos empreendimentos, modificações substanciais e ampliações da capacidade produtiva das organizações que estão sob sua jurisdição.

CONCEITOS

A energia (com “n”) é uma medida universalmente aceita como uma expressão de realização de trabalho ou dos recursos necessários para a realização desse trabalho. A tentativa dos físicos teóricos em encontrar uma “teoria de tudo” (que fosse capaz de unificar as teorias da relatividade, eletromagnetismo e quântica) passa necessariamente pela convergência das resultantes destas diversas formas de enxergar o mundo, e utilizar a energia como medida única é o caminho preferido por todos eles. Quando Albert Einstein expandiu os conceitos expressos na Primeira Lei da Termodinâmica, que como todos nos lembramos estabelece que a energia de um sistema fechado se conserva, convertendo massa em energia (E=mc²), ele dava o primeiro passo em direção à unificação dessas forças, e que seria a base da avaliação da emergia, pois ela se baseia no balanço entre entradas e saídas energéticas de um processo.

Emergia (com “m”) é toda a energia necessária para um ecossistema produzir um recurso (energia, material, serviço da natureza, serviço humano). Assim, a análise emergética é uma metodologia desenvolvida por H.T. Odum (1983) para contabilizar os fluxos de massa e energia que ingressam e saem de um sistema sob uma unidade comum, a emergia, e calcular indicadores que avaliam ecossistemas, naturais e antrópicos, do ponto de vista da sustentabilidade. Estes indicadores dão como resultado um indicador agregado chamado Índice de Sustentabilidade Emergético, que permite avaliar o desempenho ambiental de um sistema.

A grande vantagem desse método é tornar possível a avaliação desse balanço como um todo. Uma representação gráfica dessa possibilidade é mostrada na imagem anexa a este texto, onde é possível verificar as diversas vertentes dos aspectos de interação ambiental que ocorrem em um sistema fechado, bem como o seu nível de intensidade, medido através do módulo do vetor de cada variável.

METODOLOGIA

A avaliação emergética é a quantificação da intensidade dos fluxos de energia associados à disponibilidade de recursos naturais e aos processos de transformação que o homem provoca.

Na prática, a seqüência de etapas necessárias para a contabilização da interação de um sistema com o meio ambiente pode ser resumida a:

  1. Identificação de todos os produtos e processos que compõem o sistema em avaliação. Essa classificação definirá a extensão do estudo e permitirá a organização da coleta de dados e contabilização dos fluxos de energia e interação ambiental.
  2. Análise dos fluxos energéticos do sistema, que consiste basicamente na verificação do balanço energético, dado pela contabilização das entradas de cada processo, a sua capacidade de transformação e suas saídas.
  3. A avaliação da emergia a partir da conversão dos valores obtidos em termos de energia (normalmente expressos na forma de Joules ou calorias).

De forma a tornar possível o cálculo, foram estabelecidos indicadores básicos que permitem determinar o grau de sustentabilidade de um processo produtivo, os quais são a Razão de Rendimento Emergético (EYR – Emergy Yield Ratio) e a Razão de Carga Ambiental (ELR – Environment Load Ratio). Estes dois indicadores são combinados para culminar no que se chama Índice de Sustentabilidade Emergético (EmSI – Emergy Sustainability Index), que representa uma medida da sustentabilidade do sistema analisado. O Índice de Sustentabilidade Emergético (EmSI) é expresso  pela seguinte fórmula:

EmSI=EYR/ELR

A análise do Índice de Sustentabilidade Emergético deve partir da premissa de que o objetivo final da sustentabilidade é conseguir a mais alta taxa de rendimento colocando a menor carga possível no ambiente. Altos valores de EmSI indicam que a emergia entregue por um processo produtivo ou econômico é, com grande nível de confiabilidade, fluxo de emergia renovável, e conseqüentemente mais compatível com o ambiente local. Um baixo valor do EmSI indica o oposto.

Mais do que um modismo, a análise emergética parece uma tendência irreversível, já adotada por algumas das empresas mais importantes da economia mundial e brasileira. A adoção dos seus resultados como base para concessão de licenças e autorizações é um forte indício desse panorama. E o esforço intelectual empregado para criar, desenvolver e tornar essa metodologia aplicável a todas as situações parece estar sendo recompensado pela forte adesão a esta ferramenta. Convém a todos nós, todavia, avaliar qual a sua aplicabilidade, já que se trata de uma metodologia complexa e que requer certa dose de dedicação.

Este texto não tem a pretensão de instruir ao leitor como calcular o Índice de Sustentabilidade Emergético. Para isso seriam necessárias várias páginas de cálculos complexos e praticamente incompreensíveis sem a discussão in loco dos conceitos. Além disso, as possibilidades dessa metodologia e as realidades das organizações são tantas e tão diversificadas que é impossível prever todas as situações. Como leitura adicional eu recomendo os livros Environmental Accounting e Emergy of Global Processes, ambos de H.T. Odum, pois estas obras consistem nas pedras fundamentais dessa metodologia, a partir das quais todos os demais estudos e publicações foram construídos.

 

Flávio Oliveira

flavio.oliveira@pmanalysis.com

www.pmanalysis.com.br

Flavio Oliveira, CMC | LinkedIn

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