Quando se fala em análise crítica (review, em inglês, que muitas vezes no passado foi traduzido erroneamente como “revisão”), logo se remete à ideia de uma reunião periódica com os dirigentes da organização para discutir e deliberar sobre o andamento do sistema de gestão em questão. Essa ideia, tradicional para muitas organizações, por vezes ocorre com aquela frequência anual, quase sonolenta, para se cumprir com a obrigação de se atender a requisitos normativos para os quais a empresa se subscreveu para obter o reconhecimento formal (certificação ISO 9001, 14001, 20.000-1, 22000, 22301, 27001, 37001, 45001, 50.001, 55.001 ou outras normas de referência).
Nós NÃO VAMOS falar sobre essa reunião. Nossa ideia é sinalizar que a análise crítica já deveria ocorrer nos níveis operacionais de uma organização para uma tomada de decisão por parte de especialistas, líderes e gestores. Chamemos de análise crítica operacional cujo entendimento e aplicação deveriam ocorrer nos processos e atividades mais simples, sob responsabilidade direta ou indireta da organização, como os seguintes casos para ilustrar nossa discussão:
- Incoerência no conteúdo de um PPRA ou PCMSO, ou entre si, de empresa contratada quanto a processos, atividades, equipamentos, ambiente de trabalho, funções, riscos e controles envolvidos para resguardar a segurança e a saúde dos trabalhadores.
- Log de alarmes de um CCM – Centro de Controle de Motores quanto indicação da atuação de dispositivos de segurança como velocidade, rotação, desalinhamento, vibração, desligamento por proteção térmica, para salvaguardar a continuidade operacional e segurança de equipamentos.
- Certificado de calibração de manômetros e válvula de segurança com dados incompletos ou inconsistentes fornecido por prestador de serviços para respaldar a operação de caldeiras e vasos de pressão de categorias mais críticas.
- Incidentes relacionados a TI no que diz respeito acessos não autorizados comprometendo a segurança da informação.
- Quase acidentes (portanto, sem lesão) com perda material resultando em centenas de horas paradas de veículos e equipamento móvel.
- Fornecedores e prestadores de serviço cujo faturamento mensal, ou anual, tem dependência superior a 80% da organização.
- Itens de estoque no almoxarifado sem movimentação há mais de um ano representando um valor representativo de ativo imobilizado.
Assumindo que as situações apresentadas não sejam rotina, algumas questões devem estar definidas para que a análise crítica operacional ocorra de fato:
- A. A quem compete receber a documentação entregue por terceiros, analisar o conteúdo e dar o aceite (ou rejeitar, com exigências de adequação)? Vide os casos 1 e 3.
- B. Com que frequência e a quem cabe gerar os relatórios, verificar, analisar e dar o reporte para os registros de eventos indesejáveis constatados? Vide os casos 2 e 4.
- C. Quais são as interfaces e a responsabilidades envolvidas para definição dos critérios e relato das tendências ou situações anormais? Vide todos casos de 1 a 7.
Nos exemplos citados acima, em determinadas organizações, sequer são gerados relatórios de análise, estando disponíveis apenas carimbos ou protocolos na documentação entregue ou gerada, sem que haja evidência da efetiva avaliação.
Nesta condição, em que momento se tomaria consciência do andamento das situações e questões acima: apenas durante uma auditoria ou quando da manifestação efetiva de um evento danoso (perda significativa ambiental, material, ocupacional, operacional)?
Desse último questionamento, percebemos claramente que a análise crítica operacional é imprescindível e que deveria estar ocorrendo como hábito e boa prática de uma organização que possui um sistema de gestão implementado e que estaria precedendo e subsidiando a análise crítica da Alta Direção.