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Gestão do Valor nas Organizações

Gestão do Valor nas Organizações

 

Apesar dos esforços de todas as organizações do mundo na busca de técnicas de produção capazes de extrair o seu melhor desempenho durante a operação, muitas vezes essas organizações falham nessa incessante empreitada. Essa falha se deve, em muitos casos, à falta de método de que os profissionais associados a esses empreendimentos padecem, uma vez que os mesmos são freqüentemente acossados por prazos curtos, orçamentos minguados e pressões de diversas origens. Desses fatores não nos parece possível nos livrar. Nos resta, portanto, converter essas pressões em molas propulsoras que viabilizarão os trabalhos de gerenciamento.

 

Já em seu “Discurso do Método” René Descartes defendia a utilização método científico para a realização de qualquer trabalho, esteja ele relacionado às atividades que nos garantem a sobrevivência ou relacionado ao lazer, que embora seja cada vez mais escasso, nos é tão caro e imprescindível. Por isso é tão importante a utilização de métodos padronizados durante o processo de gestão, de outra forma o resultado de qualquer empreitada fica dependente da sorte que acompanha alguns de nós, mas que geralmente se esconde quando mais precisamos dela.

 

A Análise do Valor é uma metodologia disciplinada, caracterizada por uma coletânea de ferramentas organizadas que compõem o chamado Plano de Trabalho, o qual fornece subsídios para a consecução das etapas de coleta de informações, análise, proposição de alternativas, implementação e verificação de eficácia de ações que visam aumentar o valor de produtos, processos e sistemas de gestão.

 

A Análise do Valor surgiu nos EUA na década de 1940 como forma de viabilizar a substituição das matérias-primas consideradas "nobres” – tais como níquel, cobre, cromo e platina – que, durante a segunda grande guerra ficaram reservadas exclusivamente para uso da indústria de material bélico ou de interesse militar. Essa escassez fez com que a indústria convencional se visse na obrigação de encontrar materiais alternativos para supri-la de suas necessidades, de maneira a mantê-la em funcionamento sem prejudicar seus clientes que, não obstante a continuidade dos atos beligerante de seu país, continuava precisando de produtos de primeira necessidade.

 

Ao longo dos anos que se passaram desde então, a Análise do Valor ganhou corpo e suas aplicações multiplicaram-se nas organizações que a adotaram como ferramenta de redução de custo e aumento de performance. Outros conceitos lhe foram incorporados e a sua utilização se tornou tão importante que passou a ser obrigatória em algumas empresas e organismos governamentais.

 

Como resultado dessa evolução, os responsáveis pela implementação dessa ferramenta perceberam que ela seria muito mais proveitosa se fosse implementada no início do ciclo de vida do produto, no momento da sua concepção. A partir disso a Análise do Valor passou a ser conhecida também como “Engenharia do Valor”, nome dado à AV quando utilizada na etapa de desenvolvimento do produto e de seu processo de produção. Como em todos os projetos, na etapa de planejamento reside a garantia de que o produto será (ou não) bem sucedido durante toda a sua vida, e tomar todas as providências para que o processo e produto tenham seu desempenho e custo otimizados é fator preponderante para o aumento da probabilidade do seu sucesso.

 

Apesar do sucesso da Engenharia do Valor e da Análise do Valor, é possível perceber que as possibilidades de ganho a partir da sua utilização são amiúde desperdiçadas, já que os projetos que envolvem a implementação da AV / EV se resumem à realização do estudo, não sendo continuadas após a conclusão deste projeto.

 

Uma forma de expandir os horizontes de emprego dessa ferramenta é usufruir dela em outras fontes de custos que não as relacionadas diretamente com o produto. Assim, a AV também pôde ser aplicada ao gerenciamento de alguns processos, não necessariamente produtivos, fato que deu origem ao termo Análise do Valor Organizacional (AVO).

 

Mesmo assim, seu uso continua limitado a um projeto estanque, com data para início e data para conclusão. Desta forma continuam sendo desperdiçadas aquelas que talvez sejam as maiores chances que muitas empresas têm de aumentar o seu valor. A única forma de preencher essa lacuna é a aplicação da filosofia do valor a todo o sistema de gestão da empresa, permeando todas as decisões relevantes que são tomadas na rotina das organizações. Que bom seria ver o processo evoluindo ininterruptamente de maneira sustentável e em busca da otimização das práticas estabelecidas que, não obstante necessitem ter seu custo de realização cada vez mais reduzido, se vêem na obrigação de aumentar o seu valor intrínseco percebido por seus clientes.

 

O Sistema de Gestão de qualquer organização fornece constantemente valiosíssimas oportunidades de melhoria que muitas vezes nos passam despercebidas, provavelmente por fazerem parte da rotina e que, por isso mesmo, são menosprezadas, pois há em nós uma forte tendência de “nos acostumarmos com a paisagem” que nos rodeia.

 

Senão vejamos algumas dessas situações que, se tratadas segundo a abordagem da Análise do Valor, poderão gerar resultados que nos surpreenderão (os assuntos relacionados a “Projeto e Desenvolvimento” não serão abordados especificamente por se configurar na oportunidade mais óbvia de aplicação desse conceito):

 

  • Política do Sistema de Gestão: A política deveria conter como um dos princípios básicos a constante busca pelo aumento do valor de atividades, produtos e serviços.

  • Definição de objetivos e metas: No momento em que a empresa se prepara para se lançar a novos desafios a utilização dessa metodologia poderia ajudar a estabelecer metas mais adequadas, realistas, porém desafiadoras, que poderiam promover o crescimento sustentado da empresa.

  • Criação dos Programas de Gestão: O momento de criação dos planos de ação que sustentam os objetivos e metas da corporação é extremamente oportuno para a adoção da abordagem de valor. A utilização do Plano de Trabalho da AV pode gerar diretrizes para a orientação das ações a serem tomadas.

  • Realização da Análise Crítica Pela Direção: A reflexão que a Alta Direção realiza sobre o desempenho do Sistema de Gestão promove a identificação de situações de baixo valor agregado, permitindo que para as mesmas sejam criadas ações de melhoria.

  • Planejamento Avançado da Qualidade do Produto (APQP): Momento em que as características de controle de processo e monitoramento do produto são definidas. Muitas vezes nos deparamos com etapas de processo e controle que pouco ou nada acrescentam em termos de qualidade ou confiabilidade do produto fornecido. Convém que a determinação desses parâmetros ocorra tendo em vista o benefício que os mesmos trarão para o cliente.

  • Seleção de Novos Fornecedores: Muito provavelmente esse já seja o resultado de um programa de Análise do Valor. Muitos desses estudos culminam na possibilidade de substituição de fornecedores pouco eficientes no fornecimento dos produtos. Contudo, a Gestão do Valor permite que a qualquer momento seja possível identificar os fornecedores / insumos que menos ajudam ao Sistema de Gestão.

 

Além dos acima citados poderíamos pensar também na Gestão do Valor no momento do levantamento e mitigação de Aspectos Ambientais e Perigos de Segurança e Saúde Ocupacional, o que nos remeteria aos conceitos de Ecoeficiência e Performance Ocupacional, temas de uma longa discussão que será conduzida em um outro momento.

 

A Gestão do Valor trata-se, portanto, da aplicação da filosofia do valor ao longo de todo o Sistema de Gestão. Aqueles que já participaram das diversas mudanças a que esses sistemas são submetidos sabem que sempre que há o desejo de se implementar uma nova metodologia, alguns dos primeiros obstáculos a transpor são o ceticismo e a indiferença das pessoas que não estão completamente comprometidas com esse processo. A forma mais eficaz de obter essa cumplicidade é demonstrar os benefícios que as novas atividades irão proporcionar, além do crescimento pessoal pelo qual os envolvidos passarão.

 

Pela sua praticidade e pela lucidez com que foi criada, a Análise do Valor, além de produzir resultados facilmente comprováveis em curto prazo, é também uma filosofia verdadeiramente aplicável, que não se restringe a devaneios acadêmicos de professores enfurnados em salas de aula e bibliotecas empoeiradas.

 

FLAVIO OLIVEIRA

flavio.oliveira@pmanalysis.com

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