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ESG SOB ATAQUE

ESG SOB ATAQUE

Muito tem se falado sobre o ESG (Environment, Social & Governance), e de todos os benefícios que as organizações têm colhido ao aplicar os conceitos da gestão responsável que estão associadas a esta ideia. A preocupação com os potenciais impactos ao meio ambiente, com a interferência das empresas na sociedade em que está inserida e a adoção de medidas de prevenção e combate aos diversos tipos de corrupção e fraude têm direcionado as decisões das organizações em quase todo o mundo, muito menos por ideologia do que por questões pragmáticas, como a manutenção da boa imagem da empresa, do aumento de rating para captação de recursos e, em última análise, a sustentabilidade do negócio.

ESG não é um conceito novo, embora tenha surgido recentemente como um refresh na sua roupagem. Há muitas décadas já concluiu que a “produção a qualquer custo” é um erro crasso, e que os clientes e consumidores estão atentos ao comportamento das empresas. Há diversas pesquisas que associam, em muitos casos, a tomada de decisão de compra baseada na conduta das marcas, e não necessariamente no menor preço ou maior comodidade. Nem sempre isso é verdade, mas sem dúvida é um comportamento que não pode ser negligenciado, pois a tendência é de que a proporção de consumidores preocupados com estas questões aumente. Embora haja incertezas, a tendência parece clara.

Apesar disso, como em todo rio há aqueles que remam contra a corrente, cresce um movimento que questiona os benefícios da adoção do ESG pelas organizações. Este questionamento acontece em todos os níveis, desde aqueles que duvidam dos efeitos da atividade humana no meio ambiente, passando pelos que acreditam que a única responsabilidade social das organizações é pagar os salários em dia, e chegando até os que questionam as regras de valuation e de atribuição de rating para classificação em bolsa de valores.

Aqui abro parênteses para um disclaimer: eu coloco estes pontos com a mais genuína intenção de estudar e discutir as opiniões contraditórias, apesar de cada um de nós ter, obviamente, nossas próprias posições pessoais.

Um tipo de posicionamento que vemos frequentemente reflete declarações do tipo “ah, ESG é moda, logo vai passar”, ou outras como “isso não é novo, já existe há muito tempo”. Aqui vemos opiniões e constatações que são inquestionáveis. Pode realmente ser apenas uma moda passageira, e o conceito ESG realmente não é novo. No entanto, posicionamentos como este me parecem apenas subterfúgios para não se aprofundar no tema. Parece-me que seria mais produtivo questionar por que motivo um tema tão antigo continua sendo valorizado, e porque tantas empresas têm investido pesado nesses cuidados. Ninguém gosta de rasgar dinheiro, então é bem possível que estejam sendo colhidos benefícios da postura baseada no ESG.

Outro posicionamento frequente é o de que o ESG é mais uma postura de fachada do que realmente uma mudança de comportamento das empresas. O conceito de greenwashing (algo como “lavagem verde”) tem fundamento, e as organizações se aproveitam de pequenos esforços para fazer grande alvoroço nas redes sociais (plantar uma dúzia de mudas de árvores já pode ser suficiente para um evento de um dia inteiro). O que ocorre é que posturas como esta não se sustentam, pois os resultados da organização falarão por si próprios. Além disso está disponível um cardápio cheio de normas de gestão que permitem a certificação acreditada dos sistemas das empresas, o que confere credibilidade (ainda que restrita aos limites da amostragem pontual das auditorias) ao sistema de gestão da organização. Entre estas certificações podemos destacar normas de gestão ambiental (família da ISO 14001), normas de responsabilidade social (SA 8000, ISO 26001 e NBR 16001) e de governança (normas da família ISO 37000, com destaque para a ISO 37001 antissuborno e ISO 37301 compliance).

O questionamento à supervalorização do ESG foi recentemente turbinado por declarações de celebridades do mundo dos negócios como Elon Musk, e por profissionais do meio acadêmico como Aswath Damodaran. Em um post do Twitter, Elon Musk comentou: “A Exxon é classificada como uma das dez melhores do mundo em meio ambiente, social e governança (ESG) pelo S&P 500, enquanto a Tesla não entrou na lista! O ESG é uma farsa. Foi armada por falsos guerreiros da justiça social”. Penso que ele tem razão na aparente contradição do critério e na eventual maneira como vem sendo utilizado, mas isso não pode inutilizar o conceito de responsabilidade ambiental, social e governança. Não tem como não lembrar da velha analogia de se desfazer do sofá quando pegamos alguém fazendo o que não deve em cima dele...

Há também a criação de uma série de leis e ações na Justiça americana que colocam o ESG sob ataque pesado, principalmente nos Estados Unidos, onde as práticas ESG estão enfrentando um crescente discurso de oposição, sendo objeto de duras críticas de líderes corporativos, autoridades locais e grupos de influenciadores conservadores. Estão sendo propostas e implementadas diversas regras (na forma de leis) que impõem obstáculos à pauta ESG e estratégias de sustentabilidade. A título de exemplo, estão sendo propostos e aprovados regulamentos “antiboicote” (impõem sanções a empresas que boicotem combustíveis fósseis) e a derrubada de regras de diversidade de gênero.

Há quem veja nessa controvérsia uma oportunidade ouro para reforçar a estratégia ESG. É, por exemplo, o que propõe Grant Harrison, do GreenBiz Group: “O aumento do escrutínio é um sinal de que o ESG está tendo um impacto significativo” (veja o artigo completo em https://www.greenbiz.com/article/esg-under-attack-and-thats-good-thing).

Minha opinião é que, seja qual for o nome dado, a adoção de medidas responsáveis que ultrapassem os limites da organização é uma questão inexorável, irreversível e crucial para a continuidade dos negócios. Seja pela simples e reconfortante ideia de fazer o que é certo, seja pela visão pragmática do retorno financeiro do investimento em práticas sustentáveis, os gestores não podem desconsiderar esta perspectiva em seus planos de negócio.

 

Flávio Oliveira

flavio.oliveira@pmanalysis.com
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Flavio Oliveira, CMC | LinkedIn

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