Pode parecer algo muito moderno e avant garde, mas o conceito de ESG (Environment, Social & Governance - Meio Ambiente, Social e Governança) já existe há muito tempo e seus benefícios já foram percebidos por diversas organizações ao longo do tempo.
A sigla ESG foi usada pela primeira vez no ano de 2004, a partir da iniciativa "Who Cares Wins" ("Quem se Importa Ganha", em tradução livre minha), da ONU (Organização das Nações Unidas) em parceria com instituições financeiras. A expectativa era reunir instituições de vários países para procurar maneiras de envolver a sustentabilidade no contexto do mercado financeiro. Em 2005 (pouco tempo depois, portanto) a Bolsa de Valores de São Paulo instituiu o ISE – Índice de Sustentabilidade Empresarial, iniciativa pioneira na América Latina como o objetivo estimular um ambiente de investimento compatível com as demandas de desenvolvimento sustentável da sociedade e estimular a responsabilidade ética das corporações através de boas práticas empresariais. Desde então, o ISE se tornou elemento de valorização das organizações listadas na Bovespa, que transforma o ESG em algo valorizável monetariamente. O ISE é baseado nos mesmíssimos pilares do ESG, adotando o conceito de TBL (Triple Botton Line), internacionalmente conhecido, que avaliar as dimensões sociais, ambientais, econômico-financeiras e de governança corporativa.
A seguir um pouco mais sobre cada pilar do ESG:
E – ENVIRONMENT (MEIO AMBIENTE)
Refere-se às preocupações ambientais que a organização deve ter, por exemplo, como ela reduz o impacto ambiental e participa de iniciativas como ações para redução do aquecimento global, emissão de gases causadores do efeito estufa, aumento da eficiência energética, melhoria da gestão de resíduos, redução da poluição e conservação / preservação dos recursos naturais.
S – SOCIAL (TRADUÇÃO DESNECESSÁRIA)
De que maneira a organização respeita e estimula seus parceiros de negócio a adotar práticas socialmente responsáveis, como respeito à diversidade, inclusão, direitos humanos, ações sociais, respeito aos direitos dos trabalhadores, relações com a comunidade, etc.
G – GOVERNANCE (GOVERNANÇA)
Adoção das boas práticas de gestão corporativa, incluindo prevenção e combate à corrupção, respeito às normas aplicáveis (compliance), estruturação e respeito aos códigos de conduta ética, estabelecimento de mecanismos de auditoria e controles internos, etc.
ESG MUITO ANTES DO ESG
Quem milita nos sistemas de gestão sabe que muito antes da criação da sigla alguns dos conceitos presentes no ESG já eram adotados por diversas organizações. A gestão ambiental, por exemplo, já era pautada pela BS 7750 (British Standard) desde 1992, enquanto a ISO (organização internacional) instituiu a ISO 14001 em 1996.
Já a questão da Responsabilidade Social (Social Accountability) foi abordada na AS 8000, baseada em convenções da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e em outras convenções das Nações Unidas (ONU). Foi desenvolvida em outubro de 1997 pelo Órgão de Credenciamento do Conselho de Prioridades Econômicas (CEPAA), ligada à ONU. Além dela, outras normas tratam do mesmo tema, como a ISO 26000 (Diretrizes sobre Responsabilidade Social) de 2010 ou a norma brasileira NBR 16001, de 2004.
A Governança reúne conceitos bastante amplos, e normas com requisitos para sistemas de gestão neste sentido só foram criadas a partir de 2014 (ISO 19600), 2016 (ISO 37001 – Gestão Antissuborno) e mais recentemente em 2021 (ISO 37301 – Gestão do Compliance). Antes disso já havia diversas regulações nacionais e internacionais sobre o tema, sendo que no brasil as principais são a Lei Federal n° 13.303 (governança corporativa nas empresas públicas e nas sociedades de economia mista), a Lei Federal 12.846 de 2013 (“Lei Anticorrupção”). Em escala mundial há diversos regulamentos e iniciativas, dos quais vale lembrar os Acordos e convenções internacionais (ONU - 2003, OCDE – 1997, OEA - 1996), o FCPA (Foreign Corrupt Practices Act) em 1977 e no Reino Unido o Bribery Act em 2011.
A GESTÃO DOS RISCOS COMO BASE PARA O ESG
Um ponto em comum entre todos estes conceitos é o fato de que, no final das contas, todos tratam da gestão de riscos. As melhores práticas são adotadas porque os gestores entendem que os benefícios que estas práticas trazem à organização são maiores e compensam eventuais recursos a serem empregados. Mais do que ideologia (é claro, na maioria dos gestores há preocupação legítima com as partes interessadas no negócio), adotar os conceitos ESG é decorrente da simples constatação de que negócios que não consideram esses preceitos terão pouca chance de sobrevivência.
O APOIO DA CERTIFICAÇÃO
Como se vê, apesar da sigla ESG ser relativamente nova (cunhada pela primeira vez em 2004, mas que ganhou força apenas recentemente), os conceitos por trás das letras já são conhecidos e adotados por diversas organizações há muito tempo. Algumas delas utilizaram como ferramenta a certificação de seus sistemas de gestão, de forma que possam expor e validar os seus esforços através de certificações como a ISO 14001, SA 8000, ISO 37001 e ISO 37301. Em outros casos, apenas a adoção das práticas, independentemente da certificação, já foi suficiente para estruturar internamente e valorizar externamente a preocupação das organizações com os conceitos de sustentabilidade.
Muito mais do que a adesão a uma moda, a utilização dos conceitos ESG é fundamental para a continuidade de qualquer negócio, à medida que já está mais do que entendido que uma empresa não existe para obter lucro a qualquer preço, e que todo contexto que a circula é afetado por suas operações e, portanto, também deve ser considerado na gestão da organização.
Flavio Oliveira
Flavio.oliveira@pmanalysis.com