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Auditor à Moda Antiga

Auditor à Moda Antiga

Publicado originalmente em 19 de novembro de 2018 no LinkedIn.

 

Depois de tantos anos executando e participando de auditorias, eu pensava que já não havia mais espaço para auditores egocêntricos e exibicionistas, mas estava errado.

 

Em pleno século XXI, onde as relações profissionais estão incrivelmente evoluídas, onde as estruturas organizacionais são achatadas para refletir a quebra do conceito de hierarquia, e onde, mas do que nunca, os profissionais são enxergados como parceiros comerciais, é anacrônico que ainda nos deparemos com auditores que usam o seu título transitório para alardear, ainda que por algumas horas, o "poder" ele exerce sobre a organização auditada.

 

Não pensem que esse é o papo de um mau perdedor, mesmo porque o resultado da auditoria foi ótimo, e o projeto, que teve inúmeros desafios, foi concluído com sucesso estrondoso. Talvez esse seja o principal motivo da minha indignação: um comportamento inadequado provocou um anticlímax desnecessário, que por pouco não jogou água no chope de um projeto lindo.

 

De cara já se pode desconfiar de um Auditor Líder que, durante a reunião de abertura da auditoria, não apresentou os membros de sua própria equipe, sequer dando a eles espaço para que apresentassem a si mesmos. Todo o discurso foi voltado para o próprio umbigo, numa demonstração clara de egocentrismo. Foi triste ver o constrangimento do outro membro da equipe ao ser sumariamente ignorado nas apresentações.

 

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Na primeira área a ser auditada a má impressão se aprofundou. Apesar de não ser ele o auditor designado para esta área, ele fez questão de participar, prometendo não intervir. Não foi o que se constatou, pois na primeira oportunidade, diante da falta de entendimento do auditado, demonstrou uma agressividade que não se justificava pelo clima da auditoria. Por si só esta postura beligerante já seria de se objetar, mas ela foi agravada pelo fato que O AUDITOR ERA O OUTRO, e que nosso anacrônico personagem deveria ser apenas um observador. Revisitando o passado me lembrei de que aquela era uma área na qual este auditor líder já tinha experimentado um pequeno entrevero, que voltava à tona de uma maneira nitidamente premeditada. Que motivo faria um auditor observar o outro auditando uma área para a qual ele mesmo não fora designado, e intervir de maneira atabalhoada, constrangendo inclusive a própria equipe? A única explicação plausível: rancor. Aparentemente a missão dele era dar uma Não Conformidade nesta área específica, e as primeiras horas da auditoria foram dedicadas a atingir este objetivo.

 

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Todo o processo de auditoria foi salpicado de piadas de gosto duvidoso, das quais só ele ria, (e que invariavelmente constrangiam o auditado), de episódios de insegurança e de controle (evidenciados pela maneira nervosa com que um grande anel pulava de um dedo para o outro), de perguntas ríspidas e respostas excessivamente grosseiras, que me fizeram voltar ao passado e lembrar da época em que a auditoria era um terror, e os auditores consideravam a si mesmos como semideuses que desceram à Terra para trazer seus inquestionáveis ensinamentos. Tudo isso é agravado pelo fato de que os membros da equipe deste meu cliente são de um nível intelectual e de uma fineza que eu poucas vezes testemunhei em meus muitos anos de consultoria, e em momento algum os auditados podem ser acusados de provocar as reações descabidas deste profissional frustrado. Pelo contrário, foi elogiável a maneira madura que todos eles usaram para lidar com a postura reprovável do auditor.

 

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Fosse eu o cliente, este auditor não botaria novamente os pés em minha organização. Como não o sou, minha única ação possível será continuar recomendando a meus outros clientes que não aceitem este tipo de conduta. Afinal de contas, apesar da alegada (e real, na maioria dos casos) imparcialidade e independência, a relação entre uma empresa auditada e um OCC (Organismo Credenciado de Certificação) nada mais é do que a relação entre um cliente e seu fornecedor.

 

Pode ser que eu esteja ficando velho e rabugento, mas você aceitaria calado o comportamento inadequado de entregador pizza que faz piadas sobre a cor da porta da sua casa, ou a resposta truculenta a uma pergunta sobre a sua conta de TV a cabo dada por um atendente de call center?

 

É claro que as consequências de eventuais retaliações a um auditor de certificação são diferentes das reclamações sobre um entregador de pizza. Apesar disso, não custa lembrar de que não somos mais importantes do que os nossos clientes, e que, dependendo do nosso comportamento, poderá não haver mais a quem entregar as pizzas amanhã.

 

Flávio Oliveira

flavio.oliveira@pmanalysis.com

www.pmanalysis.com.br

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